segunda-feira, 28 de março de 2016

Montes Claros MG. PATRIMÔNIO HISTÓRICO AS TRAÇAS - Prédios tombados ‘clamam’ por socorro na terra da arte e da cultura

REALIDADE EM FOCO

A Cachaçaria do Durães está sem o teto graças à falta de ação do patrimônio público
Por Girleno Alencar - Jornal Gazeta
O sonho de criar o Corredor Cultural de Montes Claros, com a utilização dos casarões históricos para galerias de artes, casas da culinária típica, eventos musicais, está morrendo. O Patrimônio Histórico e Cultural da cidade está jogado as traças e sem perspectivas, agravada pela desistência da cidade em captar os recursos do ICMS Patrimônio Cultural, repassado pelo Estado para os municípios que investem na preservação desses bens. Sob o argumento de falta de profissionais e empresa habilitados a elaborarem o processo municipal, a Prefeitura de Montes Claros deixou de se inscrever no ano passado e também esse ano, também alegando que o valor repassado é pequeno, para a grande necessidade.
Desde 1985 que Raquel Mendonça e Fabiano Veloso tomaram a iniciativa de fazer o inventário histórico de Montes Claros, levantando quais são os imóveis que deveriam ser tombados. No ano de 2000, a Prefeitura de Montes Claros realizou o primeiro tombamento. Alguns resultados foram alcançados: no ano de 2007 o então secretário municipal de Cultura, João Rodrigues, entrou com o projeto no Fundo Municipal de Cultura e levantou R$ 300 mil para comprar o Casarão dos Maurícios, que passaria a abrigar a Secretaria Municipal de Cultura. Em 2010, o então secretário Ildeu Braúna inaugurou o espaço.
No ano de 2010, depois de 20 anos, o Estado entregou o Museu Regional, no antigo prédio da Fafil, onde estudaram os imortais Darcy Ribeiro e Ciro dos Anjos, que dão a Montes Claros o título de única cidade do interior brasileiro a contar com dois membros na renomada Academia Brasileira de Letras. O Centro de Agricultura Alternativa (CAA), por iniciativa própria, adquiriu o Solar dos Oliveiras, que abrigou o presidente das Províncias de Minas Gerais e Santa Catarina, Antônio Gonçalves e também o jornal Gazeta de Montes Claros, um dos maiores impressos da história da cidade. Gradualmente o CAA foi realizando a restauração do espaço e desde agosto de 2009 o local foi reaberto, sediando o Empório do Sertão. Hoje, abriga o CAA e se tornou celeiro das tradições culturais dos extrativistas, quilombolas, vazanteiros, indígenas, etc.
A situação preocupa a Curadoria do Patrimônio Público do Ministério Público em Montes Claros, promotora Aluísia Beraldo Ribeiro, que no ano de 2014 chamou o secretário municipal de Cultura, Carlos Muniz e a diretora de Proteção ao Patrimônio, Raquel Mendonça para definirem ações a serem realizadas nessa área. Apesar do esforço de Raquel Mendonça, na realidade nada saiu do papel, pois a atual administração não priorizou essa situação.
Nem mesmo a aquisição do Casarão de Dulce Sarmento, que passou a ser denominado de Casarão de Dona Geny Ribeiro, conseguiu ser efetuada. Foi permutado por oito lotes no bairro Panorama. Porém, na hora do registro em cartório, observou-se falha técnica e o processo teve de ser revisto e retomado. A cachaçaria do Durães, que vinha servindo de espaço cultural e culinário, fechou há vários anos e o seu telhado ruiu. A promessa é de restaurá-lo, desde 2014, mas apenas o tapume colocado em sua volta é a novidade no local. Inclusive, uma casa ao lado foi demolida em plena Semana Santa daquele ano e apesar das ameaças da proprietária ter de reconstruir a fachada, nada ocorreu.
A gerente de Preservação e Promoção do Patrimônio Cultural de Montes Claros da Secretaria Municipal de Cultura, Raquel Mendonça, afirma que o mais importante é que tem realizado a existência de Planejamento e de Política Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural e a execução de inúmeras ações visando à aquisição e restauração de edificações tombadas, em péssimo estado de conservação, como o Sobrado de Dulce Sarmento, antiga pensão de Dona Geny Mendes Ribeiro e o Sobrado dos Teles de Menezes, assim como de importância para a Educação Patrimonial e outros itens constantes dos sete quadros que definem a documentação exigida para fins de obtenção de recursos de ICMS Cultural.
MP convoca para discutir o Casarão dos Telles
O Ministério Público decidiu convocar a Prefeitura de Montes Claros para discutir uma solução para o Casarão dos Telles, um dos imóveis tombados pelo patrimônio histórico de Montes Claros. Desde o mês de novembro passado que a promotora Aluísia Beraldo Ribeiro realizou reunião para propor acordo entre as partes. Na época, os herdeiros aceitavam vender apenas o casarão por R$ 350 mil e ficariam com o resto do imóvel. Porém, ocorreu uma reviravolta: os herdeiros aceitaram vender todo imóvel, pelo valor de R$ 650 mil. A promotora acredita que agora é só ajustar os detalhes finais para ser realizado o contrato.
O Casarão dos Telles é um dos mais degradados atualmente em Montes Claros, tendo inclusive recebido laudo do Corpo de Bombeiro alertando sobre a situação. A promotora Aluísia Beraldo descarta qualquer risco de desmoronamento, pois afirma que a construção é de adobe reforçado, conforme especialistas. Porém a preocupação é com o telhamento, que está frágil e realmente pode comprometer. Ela tinha pedido que o município fizesse o enlonamento do casarão, como forma de impedir maiores danos. Porém não foi possível ocorrer, por falta de infraestrutura. Na nova reunião com os dirigentes municipais, ela espera que haja uma solução, com a Prefeitura definindo a forma de pagamento.
Outro casarão que poderá ser restaurado é o localizado na antiga fazenda Quebradas, agora parque estadual da Lapa Grande. O local foi alvo de visitas de figuras ilustres, como o presidente Juscelino Kubistchek, que gostava de fazer serenatas ali, inclusive tendo deixado dedicatória, além de José Alencar, que de 2003 a 2010 foi vice-presidente da República. O casarão sofreu processo de degradação e mesmo com tanta relevância histórica, não era tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural. Desde o ano de 2009 que o IEF assumiu a área e prometeu a restauração, o que ainda não ocorreu. (GA)
Centro Cultural dos Tropeiros aguarda 11 anos
No dia 25 de março de 2005, o Banco do Nordeste anunciou a decisão de criar em Montes Claros o Centro Cultural do Nordestino, que aqui levaria o nome de Tropeiros. Pediu a Prefeitura de Montes Claros a cessão de espaço para abrigar essa unidade. Na última sexta-feira, completaram 11 anos dessa proposta, sem Montes Claros resolver. De lá pra cá, o BNB inaugurou o Centro Cultural em Juazeiro do Norte, no Ceará, no dia 6 de abril de 2006 e; de Souza, na Paraíba, em 25 de junho de 2007. A primeira proposta foi usar o Solar dos Oliveiras para abrigar este Centro Cultural de Montes Claros. Depois, por indicação da médica Vera Avelino, então presidente da Apas e Raquel Mendonça, se pensou em usar o Armazém Ferroviário.
Somente para se ter ideia: o presidente do BNB, Roberto Smith, esteve em Montes Claros em 2006 e reafirmou a decisão do banco em doar a Montes Claros essa unidade, tendo inclusive visitado o Armazém Ferroviário. No mesmo dia, anunciou que restauraria a caldeira do vapor Benjamin Guimarães, em Pirapora. No dia 30 de junho, o vapor voltou a navegar pelas águas do rio São Francisco. O BNB informa que o Centro Cultural do Nordestino é um espaço onde é permitido experimentar a diversidade de conceitos, estilos e suportes, oferecidos em sua programação. Isto significa trabalhar cada Programa relacionando-o a um contexto mais amplo, estabelecendo pontes entre saberes e transformando-se em um lugar de encontro dos vários públicos para usufruir e refletir sobre arte e cultura.
O CCBNB oferece a seus visitantes uma variada programação diária e gratuita, enquanto dedica-se a formar um público crítico. Tendo como princípio que uma ação cultural efetiva é resultado do diálogo com os artistas, com as comunidades e o público em geral, o Centro Cultural Banco do Nordeste trabalha sua programação a partir de um edital anual onde recebe propostas de artistas nas áreas de cinema, artes visuais, música, artes cênicas, literatura, história, patrimônio e atividades infantis. Nos espaços do Centro Cultural Banco do Nordeste o público descobre o prazer de conhecer e apreciar a arte e a cultura: do Nordeste, do Brasil e do Mundo.
Um grupo formado pelo então presidente da Esurb, Marcos Maia; Wanderlino Arruda, do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e membros da Maçonaria, começou a articulação para conseguiu a liberação do Armazém Ferroviário, que estava sob controle da Ferrovia Centro-Atlântica, no contrato de arrendamento. No ano de 2008, o imóvel foi repassado a Prefeitura de Montes Claros, com a interferência direta do deputado Virgílio Guimarães. Porém, no ano seguinte, ao tomar posse, o novo prefeito Luiz Tadeu Leite decidiu mudar no projeto, por ser opositor a seu antecessor Athos Avelino e pediu ao arquiteto Jaime Lerner um projeto de utilização do local. O projeto encantou a todos, mas esbarrou no principal problema: a falta de recursos. Mais um sonho que continuou nas prateleiras.
A Prefeitura de Montes Claros anunciou em 2012 que avançaria nas obras de revitalização do prédio do velho Galpão de Cargas da Rede Ferroviária Federal, que está sendo transformado num novo espaço para apresentações artísticas e culturais. Conforme informações do então secretário-adjunto de Planejamento, Sérgio Diniz, além da troca do telhado, no momento as obras se concentram na parte elétrica, piso, divisões e muros. As telhas francesas que foram trocadas vieram de São Paulo. A proposta é que em dezembro de 2012 começasse a funcionar a sala de cinema digital, o Cine Armazém e o projeto cultural Nas Trilhas das Letras, de responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura, que seria aberto aos estudantes das escolas públicas municipais e estaduais.
No dia 5 de julho, a Prefeitura anunciou o edital do processo licitatório nº 138/2013 que prevê a aquisição de equipamentos e material elétrico para a construção de sala de cinema no Espaço Cultural Armazém Ferroviário, localizado no armazém da antiga estação ferroviária. A nova opção de lazer da cidade se dava graças a uma parceria entre Prefeitura de Montes Claros e Governo de Minas, através do convênio nº3823/0/12. No dia 7 de março de 2014, o site da Prefeitura anunciou que dia 20 faria a mesma licitação. No início desse ano, mais uma promessa. São 11 anos de uma luta sem resultado.

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