domingo, 31 de maio de 2015

MORRE O EX-VEREADOR MOISÉS LACERDA, QUE TAMBÉM ERA PRODUTOR RURAL, COMERCIANTE E JUIZ DE PAZ DE JANAÚBA


PRIMEIRO VEREADOR DE JANAÚBA, MOISÉS LACERDA DIZIA QUE A ESCOLA PROFISSIONALIZANTE REDUZ A CRIMINALIDADE.

Foto Oliveira Júnior
Moisés Lacerda, aos 95 anos, com a esposa Irene Teixeira.
JANAÚBA (por Oliveira Júnior) – O produtor rural e ex-vereador Moisés Bento Lacerda, 101 anos, faleceu na madrugada deste domingo, dia 31 de maio. No início da tarde de ontem, sábado, ele teria passado mal em casa. A pressão arterial havia tido uma queda. Equipe do Samu e o cardiologista Cláudio estiveram no local e levaram “seu” Moisés Lacerda para o hospital. Uma semana antes a pressão dele também havia caído. Porém, na madrugada de hoje o ex-vereador faleceu.
“Seu” Moisés Lacerda, como era mais conhecido, completaria 102 anos no próximo dia 09 de junho. Eleito vereador para a primeira formação da Câmara Municipal de Janaúba (SAIBA AQUI), Moisés Lacerda se encontrava em Janaúba há 72 anos. Filho de Pedro Antônio de Freitas Lacerda e Antônia Bento Maria de Jesus, Moisés Bento Lacerda nasceu no dia 9 de junho de 1913, em de São José de Piranhas-PB.
No dia 7 de setembro de 1942 o nordestino Moisés Lacerda desembarcava em Janaúba. Aliás, no povoado de Gameleira. Então com 29 anos de idade, ele veio para o Norte de Minas impulsionado pela construção da estrada de ferro no trecho entre Montes Claros e Janaúba. Era época da 2ª Guerra Mundial. E os homens que trabalhassem em obras de segurança nacional não seriam convocados para a guerra.
Em 2008, “seu” Moisés Lacerda mencionou que a marginalidade tem afetada a até então pacata cidade dos anos 40 a 70. Sete anos atrás, Moisés Lacerda entendia que o investimento na educação profissionalizante é fundamental para diminuir e até, se possível, acabar com a violência.
Apesar de não ter estudado em escola de Janaúba, o paraibano defendia pela valorização da Educação em Janaúba. Em 2008, durante entrevista, o primeiro vereador de Janaúba e até então o único vivo da formação de 9 vereadores, em 1949, Moisés Lacerda solicitava ao prefeito e aos governantes o investimento em escola de tempo integral e com extensão a profissionalização com o objetivo de diminuir a marginalidade de crianças e adolescentes. Outro desejo do nordestino de nascença, mas gorutubano de coração, Moisés Lacerda, é que seja implantada em Janaúba a faculdade de Medicina.
MOTIVO DA VINDA DE MOISÉS LACERDA PARA JANAÚBA
O paraibano Moisés Bento Lacerda disse que veio para Janaúba motivado pela fama de progresso que a comunidade e região proporcionavam. Ele destaca um fato importante na vida pessoal o casamento com Irene Teixeira Lacerda com quem teve os filhos Hugo, Francisco, Ilza, Marilza, Leda, Antônio Carlos, Miriam, Júlio César, Pedro Diógenes, Alexandre e Iara Rita. E é justamente a união matrimonial que fez de Moisés Lacerda uma pessoa realizada.
Morador há muito tempo na rua Francisco Sá, o senhor Moisés Lacerda tinha o prazer em dizer que gosta de Janaúba pelo fato da cidade ter um povo bom e hospitaleiro. Comerciante e fazendeiro, Moisés Lacerda tem amor por Janaúba, município pelo qual foi vereador, no período de 1949 a 1952 (primeira formação da Câmara Municipal de Janaúba).
JUIZ DE PAZ POR MAIS DE 30 ANOS E 6 MIL CASAMENTOS FEITOS
Na condição de Juiz de Paz, por mais de 30 anos, Moisés Lacerda foi o responsável pela celebração dos casamentos no cartório de registro civil de Janaúba. Vários casais tiveram o privilégio de ouvir do Juiz Moisés Lacerda o conselho de que o casamento é a base de formação para as famílias e a constituição da sociedade.
Em outubro de 2011, o produtor rural e ex-vereador Moisés Bento Lacerda, oficializou a renúncia dele ao cargo de Juiz de Paz da Comarca de Janaúba, função que exercia desde 1959 ( LEIA AQUI).
Há 55 anos, Moisés Lacerda foi eleito Juiz de Paz simultaneamente com a eleição do prefeito Flamarion Wanderlei. Desde o dia 5 de fevereiro de 1959 até o último dia que exerceu a função, o Juiz de Paz Moisés Bento Lacerda realizou mais de 6 mil casamentos civis. “Hoje estou fisicamente impossibilitado de prosseguir no desempenho de tão gratificante função”, justificou ao acrescentar “desejo, com a autoridade que me conferem os 65 anos de feliz união com minha amada esposa, que cada matrimônio por mim realizado seja marcado por verdadeiro júbilo, e que seja sólido e duradouro como pedra fundamental”, declarou Moisés Lacerda.

CÂMARA PRESTA HOMENAGEM AO PRIMEIRO VEREADOR DE JANAÚBA

27 de dezembro de 2014, data em que o município de Janaúba completou 66 anos de emancipação, a Câmara Municipal prestou homenagem aos vereadores que presidiram aquela casa legislativa desde 1949 até os dias de hoje. Foi inaugurada a galeria dos ex-presidentes da Câmara de Vereadores de Janaúba. Além da galeria dos ex-presidentes, a Câmara, representada pelo atual presidente Sérgio Coelho, prestou homenagens aos respectivos vereadores com uma placa e o primeiro vereador deste município, Moisés Bento Lacerda, recebeu um quadro pintado pela janaubense Carmem Guiomar Alcântara, a Gui Gui, retratando as riquezas e tradições gorutubanas (VEJA AQUI).

NOS ANOS 50, VEREADOR MOISÉS LACERDA E OUTRAS LIDERANÇAS DE JANAÚBA SOLICITARAM A CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DO BICO DA PEDRA AO PRESIDENTE JK

Em reunião no dia 12 de fevereiro de 1957, Moisés Lacerda e outros colegas vereadores de Janaúba haviam aprovados ofício ao então presidente da República Juscelino Kubitschek (JK) solicitando a construção da represa do Bico da Pedra, no rio Gorutuba, fato ocorrido duas décadas depois (SAIBA AQUI).

VEIO PARA JANAÚBA NUM VAPOR
Em relato à nora Liana Almeida, que é artista plástica e socióloga, há quase sete anos, Moisés Lacerda havia citado que “na vida nunca encontrei dificuldades, sempre busquei e lutei por aquilo que acreditei. Devo parte das minhas conquistas e realizações à fé que sempre tive em nosso criador e posso dizer que me sinto um homem realizado por ter alcançado o meu principal objetivo, a minha missão aqui nessa terra: fazer o bem sem olhar a quem”.
Vindo da fazenda Jenipapeiro, no interior da Paraíba, Moisés Lacerda era filho de agricultor e de costureira. Muito cedo perdeu o pai, com quem teve tempo de aprender a trabalhar com a terra, que chama a matemática das sementes. Aprendeu a contar plantando sementes de milho, arroz e feijão quando tinha apenas cinco anos de idade, o que considera sua primeira escola. Sua segunda escola foi aos dez anos, quando o pai contratou um professor por seis meses para avançar nas lições de matemática e leitura. Trabalhou na lavoura até quatorze anos. Seus irmãos eram nove, ele como o terceiro filho se sentiu no dever de trabalhar para ajudar a mãe a criar os irmãos.
Aos 17 anos deixou a vida do campo e foi trabalhar no comercio em São José das Piranhas, lembra com gratidão o nome do seu primeiro patrão, o senhor Vicente Tiago da Silva, que lhe deu oportunidades inclusive de estudar em uma escola e melhorar intelectualmente. Seu último emprego antes de vir para Minas Gerais foi numa loja de armarinhos, tecidos e compra de algodão e gado, do senhor Antônio Gomes. Como homem de espírito guerreiro e desbravador, tinha outros sonhos e se arriscou pegando em 1937 o Vapor Benjamim Guimarães em Petrolina, Pernambuco, deixando para traz sua mãe e nove irmãos, que depois vieram mais tarde.
Viajando pelo rio São Francisco até Pirapora, Minas Gerais, durante vinte e oito dias, desceu em Montes Claros quando foi selecionado para trabalhar em Janaúba, antigo povoado de Gameleira, na construção da Estrada de Ferro Central do Brasil, por isso foi dispensado de representar o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. Viajou na segunda classe, uma viagem divertida, com a presença de padres, intelectuais, poetas, seresteiros, e completa, nada de namorar, não havia no vapor nenhuma moça com quem se engraçasse.
Chegou em Janaúba em 1942 em plena Segunda Guerra Mundial. A Central do Brasil, de vinte em vinte quilômetros tinha um empreiteiro, em Janaúba encontrou com o Chefe Dr. Novaes. Nessa época não havia nada, tinha uma frondosa Gameleira ao redor do que hoje é a praça Dr. Rockert, onde abrigava os tropeiros, comerciantes que vinham dos gerais para vender seus produtos, meia dúzia de casas habitadas pelas famílias do senhor Catulé, Santos Mendes, Zé Mendes, Marcolino Barbosa, Américo Soares e a Igrejinha do Bom Jesus. Senhor Moíses enfiou a cara no trabalho durante oito anos na construção da Estrada de Ferro e em paralelo comprou carroças e foi trabalhar como empreiteiro e assim começou a ganhar dinheiro.
Aí conheceu sua esposa, dona Irene Teixeira com quem tem doze filhos, e não mede predicativo quando fala dela: linda, difícil e branda de coração. Com muito trabalho e boas relações sociais foi um grande comerciante e fazendeiro, foi eleito a vereador na primeira eleição em 1949 e atuou como Juiz de Paz por sessenta anos em Janaúba.
Entre as preferências literárias, Moisés Lacerda lia os livros de Castro Alves, Euclides da Cunha e Guimarães Rosa. Conversar com ele era a sensação de mergulhar num poço de sabedoria e conhecimento. 

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