segunda-feira, 12 de maio de 2014

Assassinato da garota Joelma, em Manga, faz a festa de blogs e vira ‘novelinha’ em rede nacional

'CORTA PRA MIM': A MORTE COMO ESPETÁCULO
Assassinato da garota Joelma, em Manga, faz a festa de blogs e vira ‘novelinha’ em rede nacional
Tre Scream (O grito) - Edvard Munch
A sequência de três assassinatos com alguns requintes de barbárie no intervalo de um mês chocou a população da outrora pacata Manga, no extremo Norte de Minas. O último deles, que tirou a vida da adolescente Joelma Antunes Pereira, de apenas 15 anos, ganhou status de comoção, após cair na internet e ganhar mundo. O crime, como se sabe, teve motivação passional: a garota foi morta a golpes de canivete após briga com o namorado D.R.S, de 17 anos – o menor em conflito com a lei, no jargão policial que alimentou o noticiário sobre o fato. 
A pensadora alemã Hannah Arendt [1906/1975] tratou do tema da banalização do mal no contexto do ultranacionalismo e anti-semitismo que descambou no holocausto dos judeus sob o nazismo. Outros tempos, outros hábitos. No Brasil dos dias de hoje, parece estar em curso outra escalada desse horror do cotidiano ao qual se referiu Hannah, com a transposição de todos os limites que se dá com o hábito recente de tudo ir parar na internet – sem o filtro mínimo que se pode esperar de quem lida com a informação. 
De volta ao caso Joelma, as imagens da garota assassinada foram produzida em sites e blogs da região que forma o entorno de Manga, poucas horas depois do crime violento ter acontecido. Um desses sítios chegou ao extremo do mau-gosto de publicar duas imagens, com closes dos golpes do namorado ciumento no abdômen e no pescoço da moça, que por pouco não foi degolada. 
As imagens da adolescente com os olhos vidrados sobre uma lápide, pouco depois de dar entrada no hospital da cidade, teria sido obra de uma ‘paparazzi’ incidental, que, em sinal invertido, aproveitou a oportunidade que se oferecia não para buscar a intimidade de celebridades, mas para exibir as misérias humanas em momento de fragilidade total. Felizmente, prevaleceu o bom-senso e as fotos foram retiradas do ar. Uma clara agressão à família e memória da moça. 
Após a repercussão em plano regional, o Caso Joelma seguiu em escalada até chegar aos estúdios da Rede Record, no Bairro da Barra Funda, em São Paulo. O assunto ganhou inacreditáveis 20 minutos na grade da emissora, durante o policialesco ‘Cidade Alerta’, comandado por Marcelo Resende – atualmente em campanha aberta pela redução da maioridade penal no país. O caso da menina morta pelo namorado ‘de menor’ no sertão-mineiro ganhou até dramatização na tela da Record. Não há como saber o rigor da apuração para a feitura do roteiro da reconstituição dramatizada do crime bárbaro. O local do crime não foi citado na matéria, e quando o foi, nos caracteres mostrados na reportagem in loco, Manga foi trocada por ‘Maringá’.

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