segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Médico que receitou sexo comenta o aumento da distribuição de fluoxetina em Blumenau

O clínico geral Welson Geraldo de Souza Pereira causou polêmica em 2006, ao receitar sexo em vez de antidepressivos


O médico Welson Geraldo de Souza Pereira causou polêmica em Blumenau, em 2006, ao receitar sexo em vez de antidepressivos. Atualmente, o clínico geral atende na rede pública de Vitor Meirelles, no Alto Vale. Dr. Welson deixou Blumenau há cinco anos, não pelo rebuliço que causou na opinião pública, mas em busca de mais qualidade de vida. Ele reforça que foi mal interpretado à época e que, além de sexo, recomendava carinho. A seguir, ele problematiza o uso de fluoxetina.
Jornal de Santa Catarina - Qual sua opinião sobre o crescente uso da fluoxetina?

Welson Geraldo de Souza Pereira - Acredito que está faltando preocupação com a saúde mental. Os gestores têm de sentar com médicos e psicólogos para discutir isso. Grande parte dessas receitas vêm dos postos de saúde. Isso tem de ser discutido com os profissionais, sem preconceitos.
Santa - O que pode ter impulsionado o crescimento e quais os prejuízos disso?
Dr. Welson - A saúde é a mente, não só o corpo. É preciso observar o lazer. Em Blumenau, há muito reflexo da reação laboral, que deve acabar afetando empresas também. Não é só um fator econômico, tem o prejuízo da desagregação familiar, do conflito de jovens.
Santa - E qual é a solução para isso?
Dr. Welson - É preciso ter uma visão holística. É preciso mudar a leitura sobre esse problema, e não simplesmente dar um comprimido. É muito fácil receitar fluoxetina e mandar o paciente para frente. Existe uma pobreza do exercício médico, existe falta de visão daproblemática da angústia mental. Blumenau é uma cidade de trabalhadores, de pessoas que têm uma cultura de muita responsabilidade e pouco lazer. Tem que se investir em saúde mental. Mas isso não significa comprar mais fluoxetina, rivotril ou diazepam. Nos postos de saúde, os médicos precisam ter tempo para atender os pacientes, para conversar e, assim, resolver mais casos.
Santa - Quanto à postura dos médicos, é possível mudar?
Dr. Welson - Os médicos são pessoas. Em todos os locais, pela pressão de trabalho e dos gestores, vi colegas dividirem rivotril. As pessoas não podem trabalhar a ferro e fogo. É preciso parar, avaliar a evolução. Isso não é perda de tempo, é ganho. Todas as cidades estão precisando de médicos. E por que? Porque o médico não aguenta a pressão.
Santa - Como se multiplica o uso de certos medicamentos?
Dr. Welson - Alguns são medicamentos de moda. O médico fala para o colega e assim vai, repete a receita. A fluoxetina e o rivotril são bons medicamentos, se bem usados. Mas sem uma visão de terapia auxiliar, é medicalizar de forma mecanicista.
Santa - Qual a melhor alternativa para a fluoxetina?
 
Dr. Welson - Fazem parte da condição humana a alegria e a tristeza. Existem parâmetros de sofrimento mental, que é muito maior do que o físico. Falta qualidade de vida, sexualidade, religiosidade, aconchego e carinho. A sociedade está mais preocupada com o ter do que com o ser. Não se pergunta qual o país mais feliz do mundo. A medida de sucesso é o material. Temos que mudar esses valores.

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